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Portuguese to English: Poesia por Braúlio Bessa General field: Social Sciences Detailed field: Poetry & Literature
Source text - Portuguese Perdoa
Perdoar não o faz fraco,
não lhe assalta a razão.
Torna livre quem perdoa
quem lhe pediu perdão.
Um sopro de amor já quebra
as grades dessa prisão.
Toda raiva disparada
volta feito um bumerangue.
Por isso, perdoe antes
que seu coração se zangue.
Quem limpa dor com vingança
lava a ferida com sangue.
Sempre haverá um alguem
Se por acaso você não conseguir caminhar,
se seus pés se enfraquecerem e a estrada se alongar,
Sempre haverá um alguém capaz de lhe carregar.
Se por acaso você sentir a alma sangrar,
e se a alma ferida fizer você chorar,
Sempre haverá alguém capaz de lhe consolar.
Se por acaso você sentir o mundo lhe escapar,
E tudo for solidão e a solidão lhe machucar,
Sempre haverá alguém capaz de lhe abraçar.
Se por acaso você não conseguir enxergar,
perdido dentro de si vendo tudo se apagar,
Sempre haverá um alguém capaz de lhe encontrar.
Se por acaso você sentir a vida açoitar,
E na hora da agonia você se desesperar,
Sempre haverá um alguém capaz de lhe acalmar.
Se por acaso você ver tudo se apressar,
se todo mundo correr se o tempo acelerar,
Sempre haverá um alguém capaz de lhe esperar.
Se por acaso você deixar de acreditar
se a própria humanidade lhe decepcionar,
Sempre haverá um alguém capaz de lhe inspirar.
Se por acaso você
sentir medo de amar,
Se achar que não é mais
capaz de se apaixonar,
Sempre haverá um alguém capaz de lhe conquistar
Sempre haverá amor, sempre haverá o bem,
numa via de mão dupla, com a força de um trem, Alguém ajuda você e você ajuda alguém.
Já que sempre haverá alguém para lhe entender
lhe carregar, lhe acalmar, lhe abraçar quando doer,
Alguém para lhe confortar quando o mundo lhe bater
Já que sempre haverá alguém para lhe socorrer
Só é preciso ser justo e grato para perceber
Que sempre haverá alguém precisando de você
Verdades e Mentiras
A mentira é perigosa,
nos transforma em outro ser.
Diz a lenda que mentir
faz nosso nariz crescer.
Sua força é mais voraz,
pois quem mente
sempre faz a confiança encolher.
A confiança que é
alicerce e suporte.
Toda mentira enfraquece.
A verdade nos faz forte
pra suportar qualquer dor
e pra sarar qualquer corte.
A obra da confiança
é pouco a pouco construída.
Passo a passo, gesto a gesto,
demora pra ser erguida.
Se a base não for bem forte,
num sopro ela é demolida
Palavras, belos discursos podem conter falsidades, mas atitudes e gestos revelam qualquer verdade.
Dizem que a verdade dói,
já a mentira destrói,
escurece seu olhar,
lhe deixa fraco, inseguro
o caminho mais escuro
é o pior de caminhar.
Por isso, pra iluminar
um amor, um sentimento
seja sempre verdadeiro,
e não só por um momento.
Seja honesto em sua essência,
pois a própria consciência
é seu pior julgamento.
E sempre será assim:
o correto e o errado,
a verdade e a mentira
caminhando lado a lado.
Há quem grite uma verdade,
há quem minta até calado.
Por isso é tão difícil
ter alguém pra confiar.
A verdade e a mentira
teimam sempre em se encontrar
sem hora ou dia marcado,
sem avisar o lugar
E mesmo assim...
Vale a pena acreditar
até no que não se vê.
Vale a pena confiar
num verso meio clichê:
É confiando em alguém
que alguém confia em você.
É preciso ser honesto
pra cobrar honestidade.
É preciso ser sincero
pra cobrar sinceridade.
E só quem é verdadeiro
pode cobrar a verdade.
As três letras de mãe
Ela tem o poder de carregar
toneladas de amor e de ternura,
uma infinidade de bravura
e uma luz que jamais vai se apagar.
pois seu brilho é capaz de iluminar
o caminho que vamos percorrer.
Se arrisca pra poder nos proteger
não importa por onde a gente for.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.
O que ela consegue ensinar
não há curso ou escola que consiga.
A maior professora e grande amiga
com milhões de conselhos pra lhe dar.
Uma fonte impossível de secar
do mais puro e genuíno saber.
Já vi mãe que nem aprendeu a ler
mas consegue dar aula a um doutor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.
Tem o dom de somar pra expandir
a fartura que alegra o coração.
Mas se acaso for pouco o nosso pão,
entra em cena seu dom de repartir
Uma mestra capaz de dividir
Nessa hora é que o pouco tem sabor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.
Sei que a alma da mãe é uma janela
que não tem cadeado nem ferrolho.
Basta olhar lá no fundo do seu olho
que a gente pula lá pra dentro dela.
Nessa hora tanta coisa se revela,
fica tudo mais fácil de entender
que até antes mesmo de nascer
você já tinha um anjo protetor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.
Ah, se Deus desse à mãe eternidade.
Ah, se houvesse um farelo de esperança.
Mas o hoje já já vira lembrança
e a lembrança já já vira saudade.
O relógio em alta velocidade
deixa claro que não vai retroceder.
Não espere sofrer pra perceber.
Não espere perder pra dar valor.
Nas três letras de mãe tem tanto amor
que não há quem consiga descrever.
Fome de Educação
Até quando o Brasil vai suportar ver seu povo carente de saber, tanta gente sem ler, sem escrever, sem escola decente pra estudar,
pois até a merenda escolar alimenta a tal corrupção.
Num lugar em que tudo dá no chão
na escola deveria ter fartura.
Um país desnutrido de leitura
só se salva comendo educação.
Se o Brasil começasse a dar valor
a quem nunca se sentiu valorizado
invertendo o que ganha um deputado
pela esmola que ganha um professor.
pode até me chamar de sonhador
por sonhar que um dia
essa nação passará por uma transformação
e os livros serão a nossa cura.
Um país desnutrido de leitura
só se salva comendo educação.
Sobra tanta coragem pra lutar,
o que falta é oportunidade.
Sobra o sonho de entrar na faculdade
pela falta do dinheiro pra pagar.
Falta tudo pra quem vê tudo faltar,
sobra tudo pra quem tem tudo na mão.
Só não falta em tempo de eleição
blá-blá-blá, lenga-lenga e muita jura blah,
Um país desnutrido de leitura
só se salva comendo educação.
A caneta é capaz de transformar
e mudar o destino de um povo.
Quem viveu só comendo o puro ovo
pode um dia provar do caviar.
Já vi gente que, por ter como estudar,
se mudou do barraco pra mansão.
Batalhando com total dedicação
conseguiu ter a vida menos dura.
Um país desnutrido de leitura
só se salva comendo educação.
Esse povo que tem tanto pra dar
não recebe o que tem pra receber.
Não consigo aceitar ou entender,
ninguém venha querer me explicar.
Eu não posso e nem vou me conformar
com a cruz que carrega o cidadão
pelo peso dessa desinformação
castigado pela falta de cultura.
Um país desnutrido de leitura
só se salva comendo educação.
A nação que investe em sua gente
nunca tem desperdício ou prejuízo.
Observo atento e analiso:
só se muda agindo diferente.
O poder de um povo está na mente,
é a chave que abre essa prisão,
é a luz que aponta a direção
pra seguir por qualquer estrada escura.
Um país desnutrido de leitura
só se salva comendo educação.
Translation - English Forgiveness
Forgiving does not weaken you,
nor does it attack your reason.
It frees the one who forgives
the one who asked for forgiveness
A breath of love already breaks
the bars of this prison.
All this scattered rage
returns like a boomerang.
That’s why, forgive before
your heart grows angry
Whoever wipes away pain with vengeance
washes his wound in blood.
There Will Always Be Someone
If by chance you can’t walk,
if your feet are weak and the path lengthens,
There will always be someone able to carry you.
If by chance you feel your soul bleeding,
and your wounded soul makes you cry,
There will always be someone able to console you.
If by chance you feel the world escaping you,
and everything is loneliness and loneliness wounds you,
There will always be someone able to hold you.
If by chance you can’t see,
lost inside yourself watching everything disappear,
There will always be someone able to find you.
If by chance you feel life lashing out at you,
if you despair in your time of agony,
There will always be someone able to calm you.
If by chance you see everything rush by,
if everyone runs by and time speeds up,
There will always be someone able to wait for you.
If by chance you let yourself believe,
if humanity itself deceives you,
There will always be someone able to inspire you.
If by chance you
are afraid to love,
If you find you aren’t
able to fall in love,
There will always be someone able to court you.
There will always be love, there will always be good,
on a two-way street, with the force of a train,
Someone helps you and you help someone.
Since there always will be someone to understand
to carry you, to calm you, to embrace you when you hurt
Someone will comfort you when the world beats you down.
Since there always will be someone to rescue you
You need to be righteous and grateful to understand that
There will always be someone needing you.
Truths and Lies
Lying is dangerous,
it turns us into something we are not.
Legend says that lying
makes our nose grow.
Its strength is greedier,
because whoever lies
always causes trust to fade.
Trust is
foundation and support.
All lies weaken.
The truth makes us stronger.
so we can bear any pain
and heal any cut.
A work of trust
is built little by little
Step by step, gesture by gesture,
it takes time to rise up.
If the base is not strong,
in one blow it is demolished.
Words, beautiful speeches can tell
Falsehoods, but attitudes and gestures reveal
any truth.
They say that truth hurts.
already a lie destroys,
it darkens your eyesight,
leaves you weak, insecure
the path darkens.
It is the worst path to take.
That’s why, to illuminate
a love, a feeling
always be truthful,
and not only for a moment.
Be honest in your being
for your own conscience
is your worst judgement.
And it always will be like this:
right and wrong,
truth and lie
walking side by side.
There’s someone who shouts a truth,
There’s someone who lies even when silenced.
That’s why, it is so hard
to have someone to trust
Truths and lies
always insist on meeting
without a date and time
or without announcing where.
And yet...
It is worth believing
til what no one can see
It is worth trusting
in a line somewhat clichéd:
It’s trusting in someone
that trusts in you.
You must be honest
to demand honesty.
You must be sincere
to demand sincerity.
And only someone who is truthful
can demand truth.
Six Letters in Mother
She has the power to carry
tons of love and tenderness,
an infinite amount of bravery
and a light that never burns out.
for her brightness is capable of lighting
the road that we travel on.
She takes risks to protect us
no matter wherever we go.
In the six letters of mother there is so much love that no one can describe it.
She can teach
what no course or school can do.
The best teacher and friend
with millions of advice to give.
A fountain who is impossible to dry up
of the most pure and genuine wisdom.
I have seen mothers who never learned to read
but who can teach a professor.
In the six letters of mother there is so much love that no one can describe it.
She has the gift of adding to expand
the abundance that delights the heart.
But if by chance our bread is little,
her gift of sharing comes at dinnertime.
A master capable of sharing
At that moment when little has flavor.
In the six letters of mother there is so much love
that no one can describe it.
I know that a mother’s soul is a window
that is neither locked nor bolted.
It is enough to look deep in her eyes
so we can delve within her.
In that moment so much is revealed,
everything is easier to understand
that even before birth
you already had a guardian angel.
In the six letters of mother there is so much love that no one that can describe it.
Ah, if God gave mother eternity.
Ah, if there were a grain of hope.
But today soon it becomes a memory
and the memory soon becomes longing.
The clock at full speed
Makes it clear it won’t go back
Don’t wait to suffer to understand.
Don’t wait to lose to gain value.
In the six letters of mother there is so much love that no one can describe it.
Starvation from Education
For how much longer can Brazil bear to see its people’s lack of knowledge, so many people without the ability
to read, to write, no decent schools where to study
because even the school lunch feeds said corruption.
In a place where everything grows from the ground
In school there should be abundance.
A country starved of reading
only saves itself by devouring education.
If Brazil started to value
those who never felt valued
exchanging the earnings of a politician for
the meagre earnings of a teacher.
they could even call me a dreamer
for dreaming that one day
this nation will be transformed
and books will be our cure.
A country starved of reading
only saves itself by devouring education
So much courage left over to fight,
what lacks is opportunity.
So many dreams of going to college
but no not enough money to pay for it.
Everything is missing for those who see everything lacking.
everything abounds for those who have it all in their hands.
Only there’s never too little at election time
blah, blah, empty talk and false promises,
A country starved of reading
only saves itself by devouring education.
The pen is capable of transforming
and changing peoples’ destinies.
Whoever lived only eating eggs
can one day try caviar.
I have seen people who because they have studied,
moved from a shack to a mansion.
Fighting relentlessly with complete dedication
they managed to live a less difficult life.
A country starved of reading
only saves itself by devouring education.
Those people have so much to give
they don’t receive what they should receive
I can’t accept or understand,
no one wants to explain it to me.
I can’t nor am I going to accept it
with the cross that the citizens carry
by the weight of this misinformation
punished because of the lack of culture.
A country starved of reading
only saves itself by devouring education.
A nation that invests in its people
never has waste or loss.
I watch attentively and analyze:
just changes acting differently
The power of the people lies in the mind,
it’s the key that opens that prison,
it’s the light that guides the way
to follow through any dark path.
A country starved of reading
only saves itself by devouring education.
Portuguese to English: Lenore
Source text - Portuguese Rio Vermelho
FLORIANÓPOLIS – ANO DE 1969
– Bicho, te juro, nesse estranho mundo em que vivemos, eu descobri que o homem sonha o que realmente é, até o momento do despertar!
Peninha caminhava pelas dunas da praia de Moçambique, no Rio Vermelho, como se atravessasse nuvens de pura luminosidade declamando suas “verdades. Descalço, macacão de jeans, cabelo no meio das costas, colares de contas sobre o peito.
– Os ricos sonham inseridos no universo de sua riqueza, que sempre lhes traz tanta preocpação, os pobres sonham que superaram a miseria, resumindo: nesse nosso mundo, todos sonham ser aquilo que realmente são. E eu, sonho que estou aqui, caminhando sobre as areias, cercado por vocês, as meninas mais lindas do universo!
Como sempre acontecia, “as garotas mais lindas do universo” nos esqueciam para segui-lo, completamente encantadas pelo som insinuante da voz e das frases que Peninha passava horas decorando, para depois soltá-las ao vento, como se fossem suas pérolas de sabe do ria.
– Quem é que ele está plagiando agora? – perguntei ao Ian, queria baixinho.
– Até agora ele está citando A vida é um sonho, do Calderón de la Barca, mas, daqui a pouco, ele emenda com um pouco de Chuang Tzu, saca, irmão.
Peninha agora molhava os pés no mar, sob o céu estrelado, luar intenso, cercado pelas gartas que riam, sus piravam e imitavam seus ges tos.
– Certo dia – disse o mestre – sonhei que era uma borboleta e, quando despertei, tomado pela leveza do voo, perguntei: será que eu realmente acordei ou serei uma borbo leta sonhando que era um humano?
– Bicho, dito e feito! Eu sabia que ele ia usar a fórmula fatal. Calderón e taoísmo! Nunca falha. Daqui a pouco, as quatro estarão brigando por ele.
– Próximo passo? – eu disse a Ian.
– O nosso?
– Como assim?
– As meninas já nos largaram mesmo, nós vamos ficar aqui, comendo mosca, ou dá pra gente partir pra outra? Quando eu penso naquela ceia que passmos o dia inteiro preparando....
– Será que elas voltam pra jantar?
– Você sabe que quando o Peninha acerta a mão é irreversível...
– Mas não vai sobrar nenhuma?
– Nunca sobra, não é mesmo?
Ian deu risadas, suspirou e fez um gesto para que eu o acompanhasse. Ri também e atravessei as dunas, depois a pequena floresta, a caminho da ponte que levava até a casa onde ficávamos.
Na mesa, peru, sala da, arroz, batatas, refrigerantes e vinho aguardavam a festa que eu supunha nunca iria começar. No canto da sala, ao lado das almofadas espalhadas pelo chão, o violão de Peninha.
– E aí, cara, vamos comer?
– E a nossa festa?
– Imagina! O Peninha vai sumir com todas as garotas. Aposto que ele vai pegar o jipe e levá-las pra cidade com uma desculpa qualquer.
Ian deu risadas outra vez. Deitou-se na rede e pediu que eu pusesse um disco do Jimmy.
– Bicho, com o devido respeito, não estou a fim de ouvir Hendrix agora. Você não quer esco lher outra coisa? – eu lhe pedi.
Ian estendeu a mão para a caixa de discos, mas, como sempre acontecia naquele tempo, a luz apagou. Havia poucas casas na região do Rio Vermelho e panes de electricidade eram comuns.
– Duda, acenda aí as velas que colocamos de enfeite na mesa.
Obedeci. Ian apanhou o violão e começou a dedilhar uma canção medieval. Fechei os olhos, sentindo o perfume das velas, o cheiro do mar, o cansaço do dia, pegando ondas na praia, batendo forte.
– Nossa, essa música é poderosa... você devia tocar para as meninas. Quem sabe assim elas param de ouvir a conversa fiada do Peninha e ficam um pouco pro lado da gente.
– Essa música não é pra todo mundo. Ela foi composta como uma invocação de entidades, ela pertenece a um ritual mágico.
– Como assim?
– Um ritual para evocar as criaturas do mar da Irlanda. – Criaturas do tipo sereia? Estou gostando...
– Não, Duda, as criaturas de poder...
– E você acredita nessas coisas?
– Não eram os deuses astronautas? Eu acredito que tudo pode acontecer. Mente aberta, bicho!
– Mas o nosso mar é tropical. A gente tá muito longe da Irlanda, nunca vai aparcer criatura nenhuma.
– Não vai mesmo...
– Ainda bem, bicho, eu já estava começando a ficar com um pouco de medo.
– Mas elas podem nos ouvir.
– Cala a boca, bicho, me deu um arrepio.
Ian soltou uma risa da gutural, diferente de sua garglhada normal. Ouvimos o barulho de fogos de artifício.
– É meia-noite?
– Em ponto....
Levantei. Estendi a mão para Ian. Ele parou de tocar para me cumprimen tar...
– Feliz Ano-novo!
– Que 1970 te traga muita sorte!
– Tenho certeza de que esse ano mudará nossas vidas... – Por quê?
– Porque as criaturas estão nos ouvindo...
– Ian, para com isso, cara, você bebeu?
– A cada ano, existe um momento de grande poder... – Ian, você tá virando o Peninha, por acaso? Para com essas coisas, bicho!
– Duda, você nunca parou para pensar porque as pessoas fazem desejos à meia-noite da virada do ano?
– Sei lá... não são esses costumes, que passam de uma pessoa pra outra, e a gente até esquece como foi que começou? – É isso mesmo. Na verdade, o Ano-novo foi marcado nessa data por que se trata de uma noite de grande poder sobrenatural. Tudo que você pedir terá grande chance de realizar-se.
– De onde vem essa ideia?
– Preste atenção...
Ian voltou a tocar a mesma melodia estranha e começou a cantar, num inglês arcaico, que eu não compreendia muito bem. Ele repetia uma espécie de refrão, que me hipnotizava, e eu senti muito sono. Recostei-me nas almofadas e fechei os olhos por um segundo. Mas foi o suficiente para que eu tivesse uma espécie de delírio. Numa fração de segundo, foi como se meu corpo físico ficasse preso à almofada, enquanto um outro corpo meu, todo transparente, translúcido, transcendental, sobrevoasse a sala observando do alto tudo que acontecia. Quando abri os olhos, senti como se tivesse levado um tombo, minhas costas ardiam e eu parecia mais cansado do que antes de adormecer.
– O que está acontecendo, Ian? Tive um sonho tão psicodélico!
– Você não sonhou, só viajou um pouquinho...
Ian sorriu e continuou a cantrolar naquele inglês, como se estivesse repetindo um encantamento hipnótico. Meu corpo novamente pesou e ele voltou a insistir:
– Esta é uma noite de grande poder. A próxima década irá mudar o mundo. Depois dos anos 70, nunca mais a humanidade pensará da maneira como pensa agora. Vejo isso com toda clareza.
– Ian, eu, se fosse você, largava esse violão. Você está dizendo muita bobagem...
– Veja a cidade de Florianópolis, por exemplo... – O que tem Floripa?
– Até agora, recebe poucos turistas, existem muitos lugares secretos, espaços de força oculta, como as dunas dessa praia... – Ian, não estou te reconhecendo. Volto a repetir, se essa conversa viesse da boca do Peninha, vá lá, mas você sempre foi o mais lúcido da turma. Não estou entendendo nada.
– No futuro, Floripa será um lugar muito frequentado por jovens, pessoas deixarão suas cidades para vir morar aqui, perto das praias e das dunas.
– De onde você tirou isso?
– De minha visão.
– Que visão, bicho, tá variando?
– Esse foi meu desejo. Pedi para ver um pedacinho do futuro. Então tive essa visão. As criaturas do mar nunca falharam comigo.
– Quer dizer que você já andou mexendo com essas coisas antes.
– Lógico. Está no sangue. Onde já se viu um irlandês que nunca ouviu falar de elfo, banshee, sereia, gnomo, duende etc. etc. etc. Minha avó sempre cantava assim e depois me punha no colo, no final do ano, pedindo pra que eu contasse meus desejos mais secretos e impossíveis por que assim eles se realizariam.
Suspirei aliviado.
Na certa, aquilo era uma estratégia familiar para obrigar criança a dizer sempre a verdade, a nunca esconder nada de adulto. E se o Ian estava imitando a avó, então não havia de ser tão ruim... A não ser que uma avó irlandesa seja bem diferente de uma avó italiana, como a minha.
– Ande, faça o seu desejo.
– Ah, é bobagem...
– Não é não!
Ian voltou a tocar e meu corpo voltou a soltar-se, e mais uma vez tive a impressão forte de estar flutuando... – Eu desejo a fama, muitas mulheres, muito dinheiro... Abri os olhos assim que terminei de dizer essa frase. Nunca entendi por que eu disse aquelas palavras. Talvez tenha sido o ciúme repentino do sucesso de Peninha. Ou vontade de ter quatro garotas me seguindo por toda a praia. Não sei. Só sei que pensava que podia dizer uma coisa dessas, proferir um desejo em voz alta e esquecer tudo na manhã seguinte. Ian olhou para mim e sorriu largamente.
– Eu sabia que você faria um desejo desses.
– E você?
– Eu?
– O que você mais deseja no mundo? Não venha me dizer que não liga pra fama, mulheres, dinheiro...
– Não ligo não. Aliás, não ligo nem um pouco. Eu só desejo paz e o maior amor do mundo. Se bem que, às vezes, eu acho que o amor não traz paz, só tormento...
– A paixão traz tormento, o amor é paz.
– E será que existe diferença entre uma coisa e outra? – Claro que existe!
– E o que você prefere?
– Entre o amor e a paixão? Eu quero tudo! Eu quero a perdição! Eu quero esquecer o meu nome, tudo o que eu tenho, eu quero encontrar uma pessoa que me faça morrer.
– Ian, bicho, você tá louco. Pra que isso?
– Porque só assim eu farei a música mais poderosa do universo.
Eu ia dizer para o Ian negar esse desejo maluco. Ao mesmo tempo que eu achava que tudo aquilo era só uma brincadeira idiota na beira da praia, no meio da noite de fim de ano, eu sentia que algo de muito diferente acontecia naquele minuto. Seria o arrepio na espinha? A impressão de voar? A sensação de uma presença invisível ao meu lado?
Eu ia pedir pro Ian tocar algo mais alegre. Uma canção de esperança, uma melodia que tornasse mais leve o ar denso que nos cercava, quando a porta se abriu, escancarada, e Peninha entrou, cercado pelas quatro amigas.
– E aí, pessoal! Vocês já comeram toda a ceia ou sobrou um pouco pra gente também?
Lenora
Peninha estava acostumado a fazer sempre muito sucesso. Entrou na sala e foi direto para a mesa de jantar. Ria e falava muito:
– Ian, você estava tocando?
Também era costume de Peninha perguntar uma coisa e continuar falando sem dar chance a mais ninguém. Principalmente quando os “ninguéns” eram Ian e eu.
– Música é pura magia. Música, o domínio de Netuno, deus dos estados alterados, da viagem astral, dono das chaves de todas as portas da percepção... Alguém aqui é do signo de Peixes?
Troquei um olhar com Ian. Agora é que o Peninha ia dar de bacana. Quando o sujeito começa va a falar de astrologia, era imbatível. Melhor ir até a cozinha lavar um pouco de louça, por que toda aquela conversa eu já sabia de cor e salteado. Levantei do sofá, meio cansado.
– Duda, aonde você vai?
Débora era a loira de franjinha, linda, a cara de Brigitte Bardot. Ela fez a pergunta e, na sequência, saiu do lado de Peninha para me ajudar a recolher os pratos.
– Sabe que eu amo a água? Posso te ajudar a arrumar tudo se você quiser...
Peninha ergueu uma sobrancelha, cismado. O que estaria acontecendo? Bem agora que ele ia atacar de astrólogo pra descobrir tudo sobre as meninas?
Ian retomou o violão e dedilhou a canção celta novamente. Ele sorria de soslaio. Parecia satisfeito.
– Ah, mas eu também quero ir para a cozinha... é sempre o lugar mais aconchegante da casa…
Agora era a Mara, olhos verdes, pele queimada do sol, sorriso atrevido. Ela se levantou, arrumou o vestido e passou as mãos nas minhas costas. Continuei a caminhar em direção à pia, meio ator doado, a bandeja nas mãos trêmulas, emocionado e tímido, nada daquilo nunca tinha me acontecido antes
– Débora, Mara, eu queria adivinhar o signo de vocês... –
Ah, Peninha, vamos deixar esse negócio de horóscopo para mais tarde, agora eu quero preparar uma sobremesa especial.
Assim disse Janete. Cabelo liso, curtinho, jeans bem justo, camiseta branca, já abrindo a geladeira.
– Ian, o que está acontecendo? – perguntou Peninha, irritado. Ian não respondeu e começou a cantar. O toque firme nas cordas do violão, a voz de uma melancolia forte e, ao mesmo tempo, assustadora, espalharam-se pela casa inteira criando uma atmosfera fantasmagórica.
E eu, bem, até hoje não entendo como foi que aconteceu. Eu, sempre o mais bobo e desajeitado, eu, o Duda, aquele que vivia ficando para trás, o cara mais ignorado da praia, separei duas panelas largas, uma frigideira e comecei a fazer uma percussão maluca, usando até o barulho da água na pia cheia de louça suja. Ian acelerou o ritmo da canção, e eu, Duda, o sujeito mais quadrado de todos os tempos, percebia que minhas mãos produziam um som totalmente diferente de tudo que eu já ouvir antes.
Débora, Mara e Janete começaram a marcar o ritmo batendo palmas, e até mesmo Nair, a namorada preferida do Peninha, deixou-o de lado e saiu dançando pela cozinha, rindo de tanta felicidade.
Ian emendava uma canção na outra, e eu ouvia a melodia de cada objeto ressoando dentro de mim. Foi como se, repentinamente, eu tivesse descoberto todos os sons que se ocultam nos lugares mais inesperados e minhas mãos soubessem exatamente como extraí-los. E, à medida que eu batia com uma colher de pau na panela de macarrão, assoprava as garrafas gerando estranhos sons, minha alma era tomada de uma energia louca, como se eu fosse esquecendo que meu nome era Eduardo Nascimento Souza, que eu tinha nascido numa maternidade normal, como qualquer outra criança normal, porque naquela noite eu entrei em transe, o corpo vibrando com a energia de alguma criatura estratosférica, uma musa, uma música, uma sabedoria instintiva, que me deixava num estado de êxtase profundo.
Enfiei a cabeça debaixo da torneira, ainda rindo muito, e, quando a levantei, meu rosto foi preso pelas mãos de Nair, que me deu um beijo na boca. Bem ali. Bem naquela hora. Bem na frente do Peninha. Que simplesmente se levantou e foi embora batendo a porta com força. Débora, Mara e Janete dançavam, como se também tivessem incorporado alguma energia, estrangeira a tudo que já tínhamos encontrado na vida. Acho que a festa teria se prolongado até o amanhecer, mas, inesperadamente, a luz voltou, a porta se abriu e todas as velas se apagaram.
– Uau!!!! A gente também quer dançar!!!
Era um bando de jovens vindo da praia. Eles riam muito, roupas molhadas do mar, sandálias nas mãos. Ian interrompeu o som para cumprimentá-los. Lembro de cada detalhe daquela cena e, até hoje, tanto tempo depois, tenho a impressão de ter memorizado cada gesto, como se minha memória tivesse gravado o caminhar, os olhares, os sorrisos, tudo, em câmera lenta.
Ian colocou o violão sobre a mesa, cuidadoso. Passou as mãos nas calças coloridas, como se quisesse limpá-las, e as estendeu para o primeiro que entrava. O grupo era formado de umas vinte pessoas, algumas meninas correram até o banheiro, outras foram diretamente para a cozinha, pedindo um copo de água, outros voaram até a mesa e começaram a comer, sem a menor cerimônia, como sempre acontecia naqueles tempos de paz, amor e vida comunitária.
Senti uma brisa diferente. Perfumada. Caminhei até a porta para fechá-la. Novamente aquele arrepio na espinha. O toque de uma mão na minha nuca. A sensação forte de uma presença invisível. Virei a maçaneta e fiquei paralisado. Do fundo da noite, uma voz diferente, de uma doçura inexplicável, pediu assim:
– Ei, espere, eu também quero entrar.
Ian e eu ficamos mudos, boquiabertos, embasbacados, diante da aparição.
Ela era ruiva, miúda, os cabelos crespos espalhando-se pelas costas, saia florida esvoaçante, camiseta cor-de-rosa, banda na na testa, sorriso inocente, que desmentia o impacto contundente dos olhos largos, lúcidos.
– Eu sou Lenora – ela anun ciou. – Posso entrar?
Ian estendeu a mão para levá-la até a sala. Ela se movia em cadência melodiosa. Eu observava os movimentos dela e era como se aquele corpo produzisse sons, como se uma canção se escondesse entre os fios de cabelos cor de cobre. Corri até a cozinha e separei meus novos “instrumentos”, as panelas e as colheres de pau. Pensei em pedir a Ian para que apanhasse o violão, mas nem foi preciso, ele já tinha o instrumento em mãos. Lenora sentou-se num banquinho, ao lado dele, e assim que Ian tocou as cordas, ela sorriu, balançou o corpo e tive a impressão de que ambos tinham sido absorvidos por uma dimensão única e intransferível.
– Lenora é o nome de meu poema preferido – disse ele. – Eu criei uma melodia especial para acompanhá-lo. Mas nunca toquei essa canção para ninguém. Foi como se ela fosse meu mantra secreto. Mas agora é diferente. Você chegou.
– Talvez a canção seja minha – disse ela rindo –, tal vez eu tenha vindo buscá-la. Não é engraçado que tudo isso tenha acon tecido hoje? Na vira dado ano?
Ian ajeitou-se para começar, eu aguardava atento o sinal para que o acompanhasse, quando a porta se abriu novamente, com força.
– Vocês por acaso pensaram que estavam livres de mim? Era o Peninha.
Na certa tinha dirigido um tempo na estrada, para depois voltar e tentar recuperar o prestígio de sempre. Ele olhou ao redor, nitidamente surpreso com os novos convidados, depois reparou em Ian, sentado ao lado de Lenora. Os dois agora estavam entretidos numa conversa animada:
– Eu conheço esse poema. Eu também adoro o Edgard Allan Poe – disse a garota. – Veja, meus pais têm a obra completa e me chamaram de Lenora por causa do poema, olha só que coincidência...
Ian era não só meu melhor amigo, como também o mais antigo. Éramos vizinhos em São Paulo. Como Ian tinha perdido a mãe muito cedo, acabou frequentando minha casa o tempo todo. Seu pai, Mr. Yeats, sempre se dizia muito grato à minha mãe pela atenção que ela dispensava ao filho. O pai de Ian era um executivo e viajava muito.
Minha família é italiana, a casa vive cheia de gente de gerações muito diferentes. Na mesa, sempre há algo para comer e, na hora das refeições, era quase uma festa ou uma luta, dependendo do dia. Todos falando ao mesmo tempo, todos comentando a vida de todos, brigas, discussões e muito carinho.
Ian estava sempre por perto, mas nunca arriscava emitir uma opinião ou defender o lado de um parente em especial. Ele ria de soslaio. E de vez em quando simplesmente sumia. Minha mãe, várias vezes, ficava nervosa com essas ausências. Ela levava muito a sério o voto de confiança que lhe fora dado por Mr. Yeats. Mas eu sabia o quanto Ian precisava de silêncio e solidão.
De minha parte, eu me interessava bastante pela casa de Ian. Era um cenário totalmente diferente de tudo que eu conhecia. As poltronas largas, confortáveis, a cadeira de leitura, as estantes repletas de livros muito antigos, encadernados em couro, letras douradas. Dois cãezinhos da raça cocker spaniel mantinham guarda no quarto dele, onde, além dos livros, havia coleções de miniaturas de castelos e soldadinhos de chumbo, herdados de seu pai.
Para mim, a casa de Ian era um refúgio da turbulência, que reinava em minha família. Para meu grande amigo, minha família tal vez representasse um mundo que ele gostava de frequentar, um mundo que ele nunca teria para si, irlandês órfão, filho único de um pai ausente. Assim, foi na casa de Ian que comecei a me interessar por poesia, a apreciar a quietude, e foi em minha casa que Ian aprendeu a gostar do convívio com pessoas muito diferentes de tudo o que ele conhecia.
Nós não frequentamos a mesma escola. Ian estudava numa escola inglesa, e eu, numa italiana. Mas, logo que terminava a lição de casa, Ian tocava a campainha e minha mãe o recebia sempre de braços abertos.
Todas essas imagens de nossa infância atravessaram minha mente naquela noite derradeira do ano de 1969. Ian fitava Lenora com uma ternura intensa, que nunca fazia parte de seu olhar. Ela parecia ter consciência da atração que exercia. Ele dedilhava o violão, e ela cantarolava, tentando acompanhar a melodia do poema que lhe dera o nome. Quando Ian deu um acorde mais forte para começar a cantar, Peninha atravessou a sala, ajoelhou-se diante da garota, tomou a mão dela, deu-lhe um beijo e berrou:
– Finalmente encontrei minha alma gêmea!
Se eu estivesse no lugar de Ian, tal vez tivesse quebrado o violão na cabeça do Peninha. Naquela noite, eu já não aguentava mais o estilo sedutor compulsivo que ele exibia sempre que uma garota entrava em cena.
Ian apenas baixou os olhos e tocou com força o violão. Lenora retirou a mão de Peninha e aproximou-se de Ian. Quando ele começou a cantar, foi a vez dos olhos dela emitirem uma sua vida de incomum nas pessoas de alma tão ferida.
Sim, porque agora eu consigo perceber que o encanto de Lenora era próprio das pessoas que aliam uma profunda vulnerabilidade a uma capacidade de sobrevivência imbatível.
Bem, naquela primeira noite ao lado dela, tantas coisas haviam acontecido comigo que essa percepção era apenas uma mera intuição. Lembro nitidamente das suas vozes em dueto. Lenora ouviu a melodia atentamente e começou a cantar a partir da segunda estrofe.
E foi como se ambos pertencêssem a uma outra época, como se todos nós fôssemos transportados a um passa do distante, mítico, a uma outra vida.
Como encontrar palavras para descrever o poder encantatório, hipnótico, o domínio que a música pode exercer sobre alguém?
Até agora, permanece a sensação frustrante de que nada que eu possa dizer ou escrever jamais será capaz de descrever todos os lugares imaginários, todos os pontos de meu corpo, todos os caminhos de meu espírito, conduzidos por aquelas vozes no primeiro amanhecer do ano de 1970...
Dunas
A lembrança dos dias que seguiram ao encon tro com Le nora ainda con ser vam uma qua li da de diá fa na, como se, duran te aquele tempo, nós três, Ian, ela e eu, estivéssemos envoltos em algum tipo de fascinação.
Tocávamos todas as tardes e noites. A essa altura, eu já aprendera a expandir meu dom musical, que se manifestara no Ano-novo. Além da percussão, percebi que me dava bem tocando violão acústico e baixo. Eu realmente passara a dominar esses instrumentos da noite para o dia. Minha satisfação era tanta que eu preferia evitar pensar em como adquirira esses talentos. Se eu realmente tivesse feito algum pacto com uma entidade sobrentural, bem, alguém no além estava me protegendo...
Peninha nos assistia sempre e, certa tarde, na hora do intervalo, ele disse algo que me marcou:
– Há muitos tipos de amor entre nós quatro – ele declarou com a certeza habitual.
– Como assim, Peninha? – perguntei.
– Até que enfim você resolveu me ouvir, Duda! Será que você finalmente percebeu a grande sabedoria de minhas palavras?
Lenora e Ian riram ao mesmo tempo.
Pareciam profundamente apaixonados.
Peninha esperou para que todos nos aproximássemos e começou a pontificar, como tanto gostava de fazer naqueles tempos:
– Veja, temos aqui o amor clássico, entre dois jovens que acabam de se encontrar e sentem um afeto forte. Mas temos também o afeto entre amigos ou irmãos, depois, o meu amor por Lenora, que é como a paixão que se tem por uma musa inatingível. É... Ian, eu sei que ela te escolheu, e não a mim, fique tranquilo.
Ian trocou um beijo com Lenora, como se quisesse marcar que ela o havia realmente escolhido, e Peninha continuou: – Mas temos, sobretudo, o amor à arte. A paixão pela música. Este é o grande elo: a criação conjunta!
– Ei, Peninha, que criação conjunta é essa? Você está com uma música na cabeça, por acaso?
– Eu não digo uma música, não sou compositor, mas acho que minha concepção musical influencia, subliminarmente, a criação de vocês. Descobri também o nome pra nossa banda.
– Que banda, bicho? A gente só toca de brincadeira. – Brincadeira coisa nenhuma! Eu vou virar empresário de vocês e teremos sucesso mundial, eu garanto!
Ian deu um acorde no violão e Lenora caiu na gargalhada. – Diga, sábio mestre Peninha, qual será o nome de nossa banda, então?
– Triaprima!
– Que palavra linda... – disse Lenora –, mas tem algum significado? Onde foi que você a encontrou? Ou é só uma invenção da sua cabeça?
– Triaprima é um termo da antiga ciência da alquimia. Significa o momento em que forças espirituais criam um estado de intensa criatividade. A união dos três grandes elementos mágicos: a arte, o amor e a palavra.
– Que lindo, Peninha! Adorei! – exclamou Lenora entusiasmada.
– E, dentro de nossa tríade, você certamente representará o amor, Ian tem o dom da músi ca, e Duda, nosso poeta e percussionista, é detentor do dom da palavra...
Ian ficou sério, como se não estivesse gostando do entusiasmo de Lenora com o nome da banda, ou melhor, com a conversa de Peninha, dedilhou o violão com força, mas, antes que ele dissesse algo, Peninha, na certa percebe do ciúme do amigo, decidiu provocá-lo ainda mais:
– Esperem, preciso explicar melhor minha concepção de vida: eu nasci sob o signo de Touro. Sou, por tanto, um filho de Vênus. Na astrologia, Vênus rege a quinta casa, onde nasce a criatividade e o amor. Não há criação sem paixão.
Lenora riu muito depois das últimas palavras de Peninha. Fiquei curioso.
– E aí, minha querida musa, você concorda com essa hipótese maluca?
– Eu acredito que a realidade se impõe enquanto a ilusão preciso de proteção...
Aplaudimos a frase dela, mas, como muitas vezes acontecia naquele tempo, continuamos a conversar entre nós, os homens, à bela musa só era permitido dizer uma linda frase de vez em quando.
Hoje em dia, quando me recordo daquelas tardes, percebo que Lenora não se importava com nossa vaidade e narcisismo exacerbado, pelo contrário. Creio que ela apreciava o lugar daquela que observa, percebe e nada diz. Essa sensação fica mais forte quando penso no dia em que compus minha primeira canção, intitulada “Dunas”.
Estávamos todos nas dunas, justamente, ao entardecer. Ian tocava melodias breves, improvisando, e Lenora o acompanhava cantarolando. Repentinamente, foi como se eu ouvisse o canto do mar, o ruído da metamorfo e constante das dunas em movimento e a melodia melancólia do sol que se punha. As palavras saíam de mim e encaixavam-se no toque de Ian.
– Que versos mais lindos! – exclamou Lenora. – Vou repeti los em canto.
Quando ouvi Lenora cantar minhas palavras, tive a dolorosa certeza de que nunca mais voltaria a viver uma emoção tão doce. Lembrei da teoria de Peninha, toda aquela história do amor que nasce da criação conjunta. Fitei os olhos escuros de Lenora e percebi que ficara irremediavelmente apaixonado, senti também como se uma faca tivesse me ferido do lado esquerdo. Desviei o olhar a tempo de perceber a expressão de dor e ódio que o ciúme profundo de Ian emprestava ao rosto dele...
Fama
Grande mestre Bowie!!!
Só você para dizer abertamente:
“A fama é lugar do vazio”...
Hoje, tantos anos depois do sucesso estrondoso de nossa banda, Triaprima, quando entro num restau rante e ainda preciso escolher a mesa mais distante para nunca correr o risco de ser reconhecido, penso nas palavras certeiras de David Bowie: fama, fama e fama. O que você ganha com o fim de seu futuro? A chama que te deixa insano? O contraste do êxtase no palco e o descoforto emocional do isolamento dos quartos de hotéis, o assédio constante dos vampiros de energia, toda aquela gente desconhecida que precisava nos tocar, nos aprisionar, fosse qual fosse o grilhão: a droga, o sexo, a fuga da solidão...
Quando entrei em reclusão, após nosso último show, o espetáculo em Camboriú, que marcava nossa volta a Santa Catarina, onde a banda fora originalmente criada, já estava tão rico que poderia viver de renda pelo resto da vida.
Nunca mais voltei a compor ou exercer qualquer tipo de profissão. Passei a viver só, sempre disfarçado, vagando pelas bibliotecas das cidades e pelas praias do mundo, como se o mar de histórias, contido nos livros, e o próprio mar fossem os únicos espaços capazes de acolher uma alma perdida em constante busca de sentido para um passado penoso demais para ter qualquer significado.
Mesmo assim, eu insisto em compreender tudo o que nos aconteceu. É por isso que decidi escrever. Não para publicar uma biografia autorizada e ganhar ainda mais dinheiro com meu passado. Quero escrever essa história, separar as páginas e, simplesmente, queimá-las numa fogueira, à noite, nas dunas, tendo o mar como única testemunha. O mesmo mar que atraiu e roubou de mim as duas pessoas que mais amei.
Fantasma
SÃO PAULO – ANO DE 2006
– Qual foi a mais estranha, horrível e desastrosa de todas as decisões que você já tomou na vida?
Lenora riu da pergunta feita pela melhor amiga, naquela tarde de sábado, tirada para fazer nada além devisitar as lojinhas e brechós da praça Benedito Calixto. Fazia sol, mas havia brisa, o inverno paulista se preparando para invadir as ruas. Na outra esqui na, da rua Teodoro Sampaio, numa loja de instrumentos musicais, uma banda tocava um cover de Lenora, a antiga canção da banda Triaprima.
– Mari, você sabia que minha mãe me batizou de Lenora por causa da música da Triaprima?
– Jura?
– Então você já viu?
– O diário de Duda?
– É isso mesmo, os capítulos que estão aparecendo no site oficial da banda. De onde será que eles vieram? Será que o autor é mesmo o Duda? Mas ninguém nunca mais conseguiu descobrir onde ele estava? Será que é tipo fantasma do Elvis? Ou do Jim Morrison? Será que o cara não morreu, só se escondeu, com nova identidade? Tem muita gente que acredita nisso...
– Alguém me disse que os textos estão sendo deixados em garrafas enterradas perto da praia de Camboriú, em Santa Catarina, já pensou?
– Mas não foi essa a mesma praia onde aconteceu a tragédia?
– Não tenho certeza... – respondeu Lenora, evitando o olhar da amiga.
– Já sei, você detesta assunto de mar...
Lenora caminhou até o caixa para pagar a blusa que escolhera.
– Tenho sim...
– Que coisa! E eu adoro o mar, quero ir para a Bahia nas férias de julho – disse Mari, como se quisesse ser superior à amiga.
– Eu queria ser como você... – confessou Lenora, ignorando a provocação.
– E eu como você! Bem que eu queria ter esse cabelo loirinho e ondulado, seus olhos verdes, sua magreza, sua inteligência...
– Tá louca, Mari? Você é muito mais bonita do que eu! – Mas você não queria ser como eu.
– Ah, eu não penso nessas coisas...
– Você pensa no quê? Você ainda sonha com o fantasma irlandês?
– Ainda...
– E como ele é?
– Parece o Ian, da Triaprima, só que é mais lindo...
– Por que será que você sonha assim? Você já contou para sua mãe?
As duas sentaram-se no banco da pracinha e Lenora continuou a falar:
– Já contei sim. Minha mãe disse que se arrepende de ter dado o nome de uma canção para mim. Mas é que “Lenora” era a músi ca que tocava na festa em que ela conheceu meu pai. Era tipo a música dos dois...
– “Lenora” foi a música preferida de muita gente... – Quando eu comecei a ter pesadelos, a primeira vez em que senti medo do mar, ela achou estranho...
– E daí?
– Daí que ela resolveu pesquisar mais a respeto do meu nome, e da origem da canção...
– Continue...
– Minha mãe contou que existem várias histórias sobre o Ian. A oficial é que ele era filho de um executivo irlandês, viúvo, que veio morar no Brasil. Conheceu Lenora em Floripa. Eles ficaram apaixonados, Ian compôs a canção baseada num poema do Edgard Allan Poe. Era tipo uma coincidência. Lenora era o poema preferido do Ian.
– E daí?
– Duda, Lenora e Ian criaram a Triaprima. Mas a ideia de organizar a banda veio do empresário deles, o Peninha. Também foi ele quem inventou o nome, baseado em termos da alquimia medieval.
– Essa parte do sucesso a gente já conhece, eu adoro todas as outras músicas também... Mas, agora, me conte a história não oficial que a sua mãe descobriu...
– Uma vez nós fomos para a Barra do Saí. Eu só tinha seis anos. Nossa casa dava para a praia. Fazia calor, as portas estavam abertas para arejar.
– E você fez o quê?
– De madrugada, minha mãe sentiu sede e levantou para beber um copo d’água. Reparou que a porta do meu quarto estava aberta. Correu para me ver. A cama estava vazia. Correu até a praia, supernervosa. Era escuro, ela não conseguia ver nada...
– E daí, anda, conta logo...
– E daí que ela me encontrou caminhando na beira da praia, cantarolando a “Lenora”, tipo uma sonâmbula. Quando minha mãe perguntou o que eu estava fazendo ali, respondi em inglês.
– Não acredito... e você estava em alguma escolinha de língua, por acaso?
– Estava nada. Eu não me lembro de nada. Quem conta essa história é minha mãe.
– E o que mais ela contou?
– Ela disse que eu estava com uma expressão completamente diferente no rosto. Que eu parecia uma velhinha. Ela morreu de medo de mim, olha só que estranho. Depois eu desmaiei. Minha mãe me carregou de volta para casa e me pôs na cama. Quando acordei, estava totalmente normal. Não lembrava de nada. Foi daí que minha mãe saiu pesquisando mais sobre o meu nome.
– E descobriu...
– Descobriu que existe uma espécie de tradição, de magia, na região da Irlanda onde nasceu o Ian. Essa tradição tem a ver com a música e a poesia. O poder da voz encantada. Parece que a avó de Ian era mestra na arte de encantar por meio do canto. Olha só o que eu percebi agorinha: a palavra encanto contém a palavra canto, não é mesmo?
– É tipo um hipnotismo pela música?
– Mais ou menos. Minha mãe disse que essa tradição é muito forte, capaz de invocar entidades, e que esses poderes podem provocar o bem ou o mal, depende de quem os usa e de como os usa.
– Bem, se a gente pensa em tudo o que aconteceu com a banda, não dá pra ficar achando que o tal do Ian era muito bonzinho, né?...
– Pois é... é isso o que preocupa minha mãe.
– Por causa dos seus sonhos? Você acha que essa figura, que aparece para você, tem a ver com o Ian?
– Chega, Mari. Você fica me perguntando essas coisas como se fosse besteira. Mas é sério. É real. Eu sinto um medo horrível. Eu mal consigo visitar uma praia. E a gente vive num país de praias. Percebeu como é difícil?
Mari reparou que o rosto da amiga tinha se modificado quando ela se queixou de sua insistência. Era estranho. Repentinamente o olhar de Lenora envelheceu. Os olhos escureceram. Rugas pequeninas surgiram em volta da boca pálida. Mari assustou-se. Ela gostava de provocar a amiga para que ela se libertasse dos medos. Mari era totalmente descrente. Em poucos anos, começaria a carreira de bióloga marinha. Detestava tudo que pudesse ser considerado sobrenatural. Mas, naquele breve momento, foi como se um outro rosto tivesse se sobreposto à expressão bonita que sempre marcava a face de Lenora. Uma espécie de holografia, tal vez. Ou uma máscara diáfana e transparente capaz de lhe conferir um ar ancestral.... – Chega mesmo, Lenora. Desculpe, já sei que exagerei. Vamos pra casa?
Translation - English Rio Vermelho
Florianópolis- 1969
“Man, I swear to you, in this strange world we live in, I discovered mankind only sees his true self in his dreams.”
Peninha was walking through the sand dunes on the beach in Mozambique along the Rio Vermelho as if he were passing through pure, illuminous clouds speaking his “truths”. He was barefoot, with denim overalls, hair down to his back and beaded necklaces across his chest.
“Wealthy people dream about their world of riches but it creates a lot of concern for them. Poor people dream about overcoming poverty. In our world, everyone dreams about being in the present and being their true selves. I dream about being here, walking on the sand, surrounded by you girls, the most beautiful girls in the world!”
Like they always said, “the most beautiful girls in the universe” forgot us as they followed Peninha completely mesmerized by the alluring sound of his voice and lines that he spent hours memorizing and then tossing them into the wind as if they were pearls of wisdom.
“Who is he lying to now?” I asked Ian who was laughing quietly.
“Until now, he has been quoting, “Life is a dream”, from Calderón de la Barca, but in a little bit, he will switch it up with a little bit of Chuang Tzu. You get it, dude?”
Now Peninha was getting his feet wet in the ocean underneath the starry sky and intense moonlight. He was surrounded by girls who laughed, sighed, and imitated his gestures.
“One day” the master said, “I dreamt I was a butterfly and when I woke up, I was lifted up by the feeling of weightlessness. “I asked myself, “Did I really wake up or am I a butterfly dreaming I am a human?”
Dude, said and done! I knew he was going to use the deadly formula. Calderón is Taoism. It never fails. In a little bit, those four girls will be fighting over him.
“What’s the next step?” I said to Ian.
“Ours? “
“What do you mean?”
“The girls have already left us. Are we going to stay here eating garbage or can we go somewhere else?
“Will they come back to eat?
“You know when Peninha makes something good, no one can match it.”
“There won’t be any leftovers?”
“Never any leftovers, right?”
Ian laughed, inhaled and gestured for me to come over. I also laughed and crossed over the dunes, afterwards to the small forest, making my way to the bridge towards the house where we stayed. On the table, there was turkey, salad, rice, potatoes, sodas and wine. Everyone was waiting for the party that I figured was never going to happen. In the corner of the room, next to the pillows scattered all over the floor, there was Peninha’s guitar.
“Hey, man, are we going to eat?”
“And our party?
Imagine! Peninha will get together with all the girls. I am guessing he will take his Jeep and bring them into town for any excuse he can think of.
Ian laughed again. He laid down in the hammock and asked me to play one of Jimmy’s records.
“Man, with all due respect, I am done listening now to Hendrix. Do you want to pick another one?” I asked him.
Ian reached his hand into the box of records but the lights went out just like before in the past. There were just a few homes in the region of Rio Vermelho and the electricity outages were common.
“Duda, light the candles that we put on the table as decorations.”
I listened. Ian picked up the guitar and started to thumb a medieval song. I closed my eyes sensing the aroma of the candles, the ocean breeze, and the weariness of the day as the fierce waves beat against the beach.
“Oh my god, this music is powerful. You should play it for the girls. Who knows maybe they will stop listening to Peninha’s small talk and come over to our side.”
“This music isn’t for everybody. It was composed to call upon other worldly beings. It belongs to a magic ritual.”
“How so? “
“It’s a ritual for evoking sea creatures from Ireland.” “Creatures like the mermaid type? I am digging this.”
“No, Duda, powerful creatures.”
“You believe in these things?”
“They weren’t astronaut gods? I believe that anything is possible. Open your mind, man!”
“But our sea is tropical. We are very far from Ireland and no creature will ever appear.
“It really won’t.”
“Just as well, man. I already was beginning to get scared.
“They can hear us.”
“Be quiet, man. You gave me goosebumps.”
Ian let out a belly laugh, different from his normal laugh. We heard noises from the fireworks.
“Is it midnight?”
“Right on the dot. “
I got up. I reached my hand out to Ian. He stopped playing to greet me.
“Happy New Year!” `
“I hope 1970 brings you lots of success!”
“I’m sure this year will change our lives.” “Why?”
“Because the creatures hear us.”
“Ian, stop that, man.” Have you been drinking?”
Every year we experience a pivotal moment in our lives.
“Ian, are you becoming like Peninha, perhaps? Stop it, man!”
“Duda, you never stopped to think why people make New Year’s Eve resolutions?”
“I know. These aren’t traditions that are passed on from one person to another and we even so much forget how it started. That’s it. In reality, the New Year is celebrated on this night because it has enormous supernatural powers. Everything that you ask for most likely will happen.”
“How did you know this?”
“Pay attention.”
Ian started to play the same, strange melody and started to sing in an archaic English that I didn’t understand very well. He repeated a kind of phrase that hypnotized me and I began to feel sleepy. I leaned back on the pillows and closed my eyes for a second. It was long enough to feel as if I were in a state of delirium. In a fraction of a second, it was as if my physical body became a prisoner to the pillow while my other body in its entire transcendental, translucent and transparent state flew above the room observing from high above what was happening. When I opened my eyes, I felt like I had fallen, my back was burning and I was exhausted.
“What’s happening, Ian? I had a psychedelic dream!”
“You didn’t dream. You just traveled a short distance.”
Ian smiled and kept humming in that archaic English as if he were repeating a hypnotizing spell. Again, my body felt heavy, and he kept insisting:
“This night is powerful. The next decade will change the world. After the 70s, humanity will not think the same way that they think now. I see this clearly now.”
“Ian, if I were you, stay away from that guitar. You are talking nonsense.”
“For example, look at the city of Florianópolis. What does Floripa have?”
“Until now, tourists didn’t visit and secret places that possessed hidden strengths existed like the dunes. “Ian, I don’t understand you.” “I will repeat myself.” “If this conversation were to come from Peninha’s mouth, I can see why you don’t understand but you were always the smartest in the class. I am not getting anything.”
“In the future, Floripa will be a very busy place for the younger generation and people will leave their cities to come and live here close to the beaches and sand dunes.”
“Where did you get this information?”
“I envisioned it.”
“What vision, man, are you hallucinating?”
“This was my wish. I asked for a piece of the future. Afterwards, I had a vision. The sea creatures never failed me.”
“Are you telling me you already have gotten involved with this stuff?”
“It’s logical. It’s in the blood. Where have we ever seen an Irish person who hasn’t heard of an elf, banshee, mermaid, gnome, pixie, etc? My grandmother always sang in a certain way and at the end of every year she put me on her lap and asked me to tell her my most far-reaching, secret wishes because in a flash, they would come true.” I breathed a sigh of relief.
For sure that was a familiar strategy to force a child to always tell the truth and never hide something from an adult. If Ian was imitating his grandmother, it wouldn’t be so bad. Unless his Irish grandmother were much different than an Italian grandmother like mine.
“Well, make your wish.”
Ah, what garbage.”
“No, it’s not!”
Ian came back to touch my body and my body jumped up. Once more I had the feeling I was floating.
“I want fame, lots of women, and lots of money.” I opened my eyes when I finished saying that. I never understood why I said those words. Perhaps, it was my non-stop jealousy of Peninha’s success or my desire to have four women following me all over the beach. I don’t know. I know that I thought I could say a wish like that out loud and forget about it the next day. Ian looked at me and smiled big.
“I knew that you would want something like that.”
“You?”
“Me?”
“What do you want the most in this world?”
“Don’t tell me that you don’t care about fame, women, and money.”
I don’t care, no. By the way, I don’t care at all. I just want peace and the greatest love in the world. Although, sometimes I think love doesn’t bring peace but torture instead.”
“Passion brings torture and love brings peace.”
“Maybe there’s a difference between one another? I am sure there is!”
“What do you prefer?”
“Love or passion? I want everything! I want forgiveness! I want to forget my name and everything I have. I want to find a person who will make me die.”
“Ian, man, you are crazy. Why?”
“Because that’s when I’ll get to play the most powerful music in the universe.”
I was going to tell Ian to reject this crazy wish. At the same time, I was thinking that everything was just a stupid game. At the end of the year at midnight, I felt something different was taking place in that moment. Was it a chill moving up my spine? A feeling of flying? A feeling of an invisible being next to me?
I was going to ask Ian to play something more pleasant. An inspiring song with a melody that would lighten the heavy air that surrounded us. With the door wide open, Peninha came in surrounded by his four girlfriends
“Hey guys! You guys already ate the whole supper or is there a little left for us too?”
Lenore
Peninha was accustomed to great success. When he entered the room, he went straight to the dining room table. He was laughing and talking a lot:
“Ian, were you playing?”
Peninha would always ask me something and then keep talking, giving nobody a chance to get a word in edgewise especially when “nobody” meant Ian or me.
“Music, the domain of Neptune, God of altered states, out of body experiences, starship journeys and guardian of the keys that unlock our understanding. Is anyone here a Pisces?”
Ian and I looked at each other. Peninha, was now going to be the life of the party. Whenever the man started to talk about astrology, he was unmatched. It was better for me to go to the kitchen and wash some dishes because I knew all that talk backwards and forwards. I got up from the couch, somewhat tired.
“Duda, where are you going?”
Débora was a pretty blonde with bangs, a face like Brigitte Bardot. When she left Peninha’s side to help me gather the dishes, she asked me this question.
“Do you know I love water? I can help you tidy up if you want.”
Peninha raised his eyebrows out of curiosity. What’s the deal? Now that he planned on getting deep into astrology to get the dirt on girls?
Ian took up the guitar again and strummed a new Celtic song. He smiled uncontrollably. He looked pleased.
“Ah, but I also want to go to the kitchen. It’s always the coziest place in the house.”
Now there was Mara with her green eyes, sunburnt skin, and an outrageous smile. She got up, arranged her outfit and patted her hands on my back. I kept walking towards the sink with the tray in my trembling hands. I felt excited and shy. Nothing like that had ever happened to me.
“Débora and Mara, I would like to share with you guys what your future holds.”
“Ah, Peninha, let’s leave this horoscope stuff for later. Now, I want to prepare a special dessert,” Janeta said deliberately. Janeta already opened the freezer and I saw her straight, short hair, tight fitting jeans and white t-shirt.
“Ian, what’s going on?” Peninha asked very annoyed.
Ian didn’t answer and started to sing. The firm stroke of the guitar’s chords combined with his strong, melancholic voice stirred up a frightful, ghostly atmosphere throughout the house.
Well, I, until now, didn’t understand what was going on. I was always the clumsiest and stupidest. I, Duda, the one who always fell behind and the most ignorant guy from the beach. With a couple of pots and the freezer, I started a crazy drumming session with the noise from the sink filled with dirty dishes. Ian sped up the song’s rhythm and I, Duda, the most old-fashioned and logical guy, realized my hands were producing a totally different sound than everything I had heard before.
Débora, Mara and Janeta started grooving to the beat clapping their hands together. Even Nair, Peninha’s favorite girlfriend, ditched him to go dancing in the kitchen smiling from ear to ear.
Ian switched to another song and I heard each string’s melody echoing within me. Suddenly, it was as if I had discovered all the sounds that had hidden in the most unlikely places and my hands discovered exactly how to get them. As I was banging a wooden stick against a pot of macaroni, bottles were also whistling odd sounds. At the same time, a strange energy invaded my soul as if I had forgotten my name was Eduardo Nascimento Souza and I had a normal childhood. That night I went into a trance as my body vibrated with an energy of some powerful creature. It was like a muse, a song, an instinctive wisdom, that left me in a profound state of ecstasy.
I put my head underneath the sink, laughing still, and when I lifted it, my face felt heavy from when Nair grabbed me and kissed me on the lips. Right there, right at the time she was in front of Peninha’s face. She just got up, and left slamming the door. Débora, Mara and Janeta were dancing as if they already invented some new energy we already had found in life. I think the party would have lasted until the morning but unfortunately, the lights came back on, the door opened, and all the candles went out.
“Wow!!! We want to dance too!!!”
A group of guys were coming from the beach. They were laughing a lot with their soaked clothes and sandals in their hands. Ian stopped rocking out to greet them. After all that time, I remember every detail of that night up until today. I feel like I had memorized every gesture as if my memory had remembered their walk, their looks, their smiles, everything in slow motion.
Ian put his guitar on the table ever so gently. He touched his colored pants as if he wanted to spot check them and give them to the first person that came through the door. There was a group of about 20 people. Some girls scurried to the bathroom directly towards the kitchen to ask for a cup of water, and others swarmed over to the table to eat without saying grace like people did back in the days of communal gatherings, love, and peace.
I felt a strange, scented breeze. I walked towards the door to close it. Again, that chill up my spine. The touch of a hand on the back of my neck. That strange feeling of an invisible being. I turned the knob and I became paralyzed. During the darkest hours of the night, a different voice, an inexplicable gentleness, asked me like this:
“Hey, wait up, I want to come too.”
Ian and I kept silent, with our mouths wide-open and dumbfounded, in front of this ghost.
She had red, frizzy hair down to her back, and wore a flowy, floral skirt with a pink-colored shirt and a headband around her forehead. Her childish smile eased the intimidating presence of her wide, lucid eyes.
“I’m Lenore,” she said. “Can I come in?”
Ian reached his hand out to take her to the living room. She swayed to the rhythm of a melody. I saw her move and it was as if her body sounded like a song lying between strands of copper-colored hair. I ran to the kitchen and separated my new instruments, the pots from the wooden spoons. I thought about asking Ian to take out his guitar but he already had it in his hands. Lenore sat on a stool next to him and right away Ian started to strike up a jam. She smiled as she swayed her body and I could tell they both had been sucked into some otherworldly and inescapable dimension.
“Lenore is the name of my favorite poem,” he said. “I created a special melody to go with it. I haven’t played this song for anyone. It’s like my secret mantra but now it’s different. You came.”
“Maybe the song is mine,” she said laughing. “Perhaps I came to get it. Isn’t it funny that all this happened today? On the eve of the New Year?”
Ian got ready to start playing and I waited attentively for the signal to go when the door slammed open again.
“Did you guys actually think you could get rid of me?” It was Peninha.
Probably he had driven on the road for a while and later came back and tried to take back his supreme social status. He looked around, clearly surprised with the new guests, when later he noticed Ian next to Lenore. Now, the two were engaged in an eye-catching conversation.
“I know this poem. I also love Edgard Allan Poe, “she said. “Check this out. My parents have his complete work and named me after this poem. What are the chances!”
Ian, not only was my best friend but also my oldest. We were close neighbors in São Paulo. Since Ian lost his mother at an early age, he ended up coming over to my house every day. His father, Mr. Yeats, was always very grateful to my mother for all the attention she gave to her son. Ian’s father was a businessman and traveled a lot.
My family is Italian. The house is full of different generations. On the table, there was always something to eat. At meal time, almost always there was a party or a fight depending on the day. Everyone talked at the same time or commented on each other’s life which meant fights, discussions and a lot of affection.
Ian always was close but he never would give his opinion or take the side of one parent over another. He laughed a lot. Once in a while he simply disappeared. Many times, my mother got nervous whenever he was gone. She took Mr. Yeats very seriously when he said there was nothing to worry about. But I know how much Ian needed silence and alone time.
For me, I was really interested in Ian’s house. It had a totally different vibe than what I used to. The huge, cozy armchairs, the reading chair, the shelves full of old books, bounded in leather and written in gold. Two puppies, Cocker Spaniel breed, guarded his room where besides his books, there were collections of miniature castles and iron soldiers he inherited from his father.
For me, the house was an escape from the madness that was always present at home. Perhaps for my best friend, my family was like a world he enjoyed going to, a world that he never had for himself as an Irish orphan and an only child of an absent father. So, it was in Ian’s house where I started to become interested in poetry and to appreciate silence. In my house, Ian learned to enjoy hanging out with people who were very different from anyone he knew.
We didn’t go to the same school. Ian studied at an English school, and I studied at an Italian one. However, as soon as I finished my homework, Ian rang the doorbell, and my mother always welcomed him with open arms.
All these images from our childhood crossed my mind on that final night in 1969. Ian stared intensely at Lenore with a tenderness that never showed up in his eyes before. She was very aware of his feelings of attraction. He strummed his guitar, and he hummed while trying to match the melody of the poem he had named after her. When Ian stroked his chords a little louder to start the song, Peninha crossed the room to face her. He took her hand, gave her a kiss, and shouted:
“Finally, I found my soulmate!”
If I were in Ian’s position, I might have hit my guitar over Peninha’s head. That night I already couldn’t handle anymore, but he always showed off his relentless, seductive behavior whenever a girl walked in.
Ian just lowered his gaze when he started to play his guitar with a kick. Lenore moved her hand away from Peninha and came up to Ian. When he started to sing, her eyes were shining with a life that was unusual for people to see with such wounded souls.
Well, now I can understand Lenore’s charm was characteristic of people who combined profound vulnerability with a will to survive.
Well, that first night next to her, so many things happened to me. What I understood was just mere intuition. I clearly remember her voices as a duet. Lenore listened attentively to the melody and started to sing at the start of the second verse.
It was as if both her voices belonged to another time and we were all carried to another distant, mythical past, to another life.
How to find the words to describe this enchanting, hypnotic and ruling power music can have over someone?
Until now, this frustrating feeling stayed and nothing I say or write will ever be able to describe all these imaginary places, all these marks on my body and my spirit’s paths driven by those voices on the first morning of the year 1970.
Dunes
The memories of the days that followed meeting Lenore still exuded a tenderness as if the three of us were entangled in some fantasy world back then.
We played afternoons and evenings. At that time, I had already learned how to improve my musical gift at the time of the New Year. Apart from the drums, I also played the acoustic guitar and bass well. I really had started to master these instruments night and day. I was so happy with myself that I didn’t even want to consider how I had become so talented. It was possible I could have made some pact with some supernatural being. Well, I knew someone from the afterlife was protecting me.
Peninha always visited us. This afternoon, while on a break, he said something that struck a chord in me.
“We have all different kinds of love between the four of us, “he asserted confidently as usual.”
“What do you mean?” I asked.
“Finally, you heard me, Duda! Did you finally get the vast wisdom of my words?”
Lenore and Ian laughed at the same time.
They appeared to be deeply in love.
Peninha was hoping we would all hang out the way he liked to do a lot back then.
“Look, here’s a typical love between two people that just found each other and have a strong connection. We also have a strong connection as friends and brothers and now, I have my love for Lenore, which is like a love you have for an elusive muse. Ian, I know that she chose you and not me. Stay,calm.”
Ian kissed Lenore as if he wanted to mark her as his territory and she had actually agreed to that. Peninha kept talking, “But we have, overall, love for the arts. Passion for music. This is the great link: the joint creation!”
“Maybe, music is playing in your head?”
“I’m not saying it’s a song or I’m a composer but I think my musical creation secretly influences where you both came from. I also discovered the name for our band.
“What band, dude? We only play for fun. It’s not a joke. I’ll be the boss of everyone and we’ll have worldwide fame. I swear!”
Ian struck a chord on the guitar and Lenore burst out laughing. “Tell me, wise expert, Peninha, what will the name of our band be then?”
“Triaprima!”
“Such a beautiful name, “said Lenore. “Does it have a meaning? Where did you find it or did you come up with it?”
“Triaprima is an old term from the ancient science of Alchemy. It is when spiritual beings come up with an environment of profound creativity. It’s a union between three magic methods: art, love, and words.
“How beautiful, Peninha! I love it! shouted Lenore eagerly.
“And, within our threesome, you definitely represent love, Ian, the gift of music and Duda, our poet and drummer, the gift of speech.
Ian became serious like he didn’t appreciate Lenore’s excitement about the name of the band or more so Peninha’s talk. He strummed the guitar loudly but before he could say anything, Peninha, undoubtedly, saw how jealous his friend was and decided to egg him on even more.
“Wait. I need to explain more clearly my idea about life. I was born a Taurus. Therefore, I am a child of Venus. In astrology, Venus rules the fifth house where creativity and love were born. There isn’t creativity without passion.”
Lenore laughed a lot after these last words Peninha spoke. I got curious.
“And so, my dear muse, do you agree with this crazy hypothesis?”
“I think reality is present when illusion needs protection.”
We praised that line she said. However, on many occasions, we men just kept talking. The beautiful muse only got to say one beautiful line now and then.
Today, when I think about those afternoons, Lenore didn’t care about us showing off or our bragging, but just the opposite. I think she appreciated her role as an observer to be able to understand without saying a word. What I feel is more powerful than the day I wrote my first song titled “Dunas”.
Right at dusk, all of us were in the dunes, Ian was playing short melodies on the fly and Lenore hummed along. Suddenly, it was if I heard something.
I heard the song coming from the sea, the noise of evolving sand dunes, and the sad melody of the setting sun. These words left my body and surrounded Ian’s music.
“I love these lines!” Lenore shouted. “I am going to use them in a song.”
When I heard Lenore sing my words, I felt confident that I never would desire another emotion so tender. I remembered Peninha’s theory, the love story born from what he described as joint creation. I stared at Lenore and saw that I had become hopelessly in love. I also felt as if a knife had wounded me on the left side of my body. I looked away just when Ian gave me the most painful and jealous look.
“Awesome expert Bowie!”!
“Only you would say that out loud.”
“Fame is nothing.”
Today, so many years after the enormous success of our band, Triaprima, when I go into a restaurant, I still have to choose a table in the back so I don’t risk being recognized. I think about those words of David Bowie: fame, fame, fame. What do you gain when your future is over? That moment that makes you go insane. On stage, its the opposite feeling of ecstasy, the emotional dissatisfaction from the loneliness in hotels, and the constant harrassment of vicious vampires. All those unknown creatures that need to touch us and imprision us; whatever the shackle may be: drugs, sex, or escape from loneliness.
During my break from our last show, Camboriú, we returned to Santa Catarina, which was the origin of the band. I already was rich enough to live off what I had earned for the rest of my life.
I never returned to create or start any type of job. I just spent life wandering through the city’s bookstores and the beaches of the world always hidden behind a mask. It seemed as if stories about the sea existed in books and the sea itself was the only space capable of welcoming a lost soul always searching for the meaning of a past too painful to even understand.
Even so, I have to understand everything that happened to us. That’s the reason I decided to write. It wasn’t to publish a biography a publishing company would approve of or to make more money off my past. I wanted to write this history, separate the pages and burn them in a bonfire at night in the dunes with the sea as my witness. The same sea that took from me the two people I loved the most.
Ghost
São Paolo - 2006
“What was the strangest, worst, and most disastrous decision you ever made in your life?”
Lenore laughed at the question her best friend asked that Saturday afternoon because she was dragged out of the house do nothing but visit thrift stores and beach shops in Benedito Calixto. It was sunny but windy that day. The Winter in São Paulo was coming soon. On the other corner of the street, Teodoro Sampaio, there was a music shop and a band was playing a cover of Lenore, the old song by Triaprima.
“Mari, did you know that my mother baptized me after ‘Lenore’, this song by Triaprima?”
“Seriously?”
“So, you already read it?”
“Duda’s diary?”
“That’s it. The chapters are on the band’s website. Where did they come from? No one was ever able to figure out where he was? Maybe he was some ghost like Elvis? Or like Jim Morrison? Maybe the guy died and he just hid under a different name? Many people do this.”
“Someone told me the texts were being left in buried bottles close to the Camboriú Sea in Santa Catarina. Have you thought about that?”
“But it wasn’t the same beach where that tragedy happened?”
“I’m not sure,” Lenore said as she avoided direct contact with her friend.
“I already know you hate talking about the sea.”
Lenore walked towards the cash register to pay for the blouse she picked out.
“You still have nightmares about tsunamis?” Mari insisted out of curiosity.
“Yes, I do.”
“That’s crazy! I love the sea. I want to go to Bahia during July, “Mari said as if she wanted to show off how much braver she was compared to her friend.
“I want to be like you,” Lenore confessed, dismissing her friend’s taunting.
“I want to be like you! Well, I want your blonde,curly hair, your green eyes, your slimness, and your intelligence.”
“Are you crazy, Mari? You are way more beautiful than me! You don’t want to be like me.”
“Uh, I don’t think about stuff like that.”
“What do you think about? Do you still dream about that Irish ghost?”
“I still do.”
“What does he look like?
“He looks like Ian, from Triaprima, only more beautiful.”
“Why do you dream about him like that? Have you already told your mom about him?
The two sat down on the park bench and Lenore kept talking.
“Yes, I already told her. My mom said she regrets having given me the name from the song. But ‘Lenore’ was the song that was playing at a party when my mother first met my father. It was their kind of music.”
“‘Lenore’ was the preferred style of music for most people. When I first started to have nightmares, I was afraid of the sea and she thought that was strange.”
“And then what?”
“So, she decided to look into the origin of my name and the song.”
“Keep going.”
“My mom said there are many stories about Ian. The main one tells of a boy who was an Irish businessman and widower, who came to live in Brazil. He met Lenore in Floripa. They fell in love and Ian wrote the song based on a poem written by Edgard Allan Poe. It was kind of a coincidence. It was Ian’s favorite poem.”
“And then?”
“Duda, Lenore and Iam created Triaprima. However, the idea of putting the band together came from their manager of the band, Peninha. Also, he was the one who invented the name based on medieval alchemy terms.”
“That part of their success as a band people already know about. I love all their other songs too. But, now, tell me the unofficial story that your mom found out.”
“One time we went to Barra do Saí. I was just six years old. Our house faced the beach. It was hot and the doors were open to air out the house.”
“What did you do?”
“At dawn, my mom was thirsty and got up to drink a glass of wáter. She looked at my bedroom door and saw it was open. She ran to see where I was. The bed was empty and she ran to the beach, extremely nervous. It was dark and she couldn’t see anything.”
“And then, go on, tell me what’s next.”
“She found me walking along the edge of the beach humming ‘Lenore’ sort of sleepwalking. When my mom asked me what I was doing there, I answered in English.”
Spanish to English: The Unruly Carpenter that Led the Revolutionary Belief System of Salvador Allende General field: Other Detailed field: Government / Politics
Source text - Spanish El carpintero anarquista que labró el credo revolucionario de Salvador Allende
Cuando era un adolescente, el presidente de Chile frecuentó el taller de Juan Demarchi, un agitador que lo ilustró sobre la doctrina libertaria, el movimiento obrero y la justicia social.
Salvador Allende, nacido en una cuna acomodada en 1908, estaba llamado a ejercer una profesión liberal y a militar en el Partido Radical. Sin embargo, en su adolescencia conoció a un carpintero anarquista, cautivado por las teorías de Errico Malatesta, que le inoculó la conciencia de clase. Mientras sus padres alternaban con las élites de Valparaíso, él frecuentaba el taller de Juan Demarchi, un desertor del ejército italiano que le hablaba de la lucha obrera y de la doctrina libertaria.
"Él tenía 60, o tal vez 63 años, y aceptaba conversar conmigo. Me enseñó a jugar ajedrez, me hablaba de cosas de la vida y me prestaba libros", recordaba en una entrevista concedida al filósofo y escritor francés Régis Debray en los setenta. Tras salir del instituto, escuchaba sus consejos atentamente e intercambiaba impresiones con él. "Cuando terminaba mis clases iba a conversar con ese anarquista que influyó mucho en mi vida de muchacho", añadía Allende, quien enumeraba las lecturas recomendadas, entre ellas la obra de Bakunin.
Aquella amistad pudo suponer un cambio de agujas en su trayectoria vital, de modo que el chaval Salvador esquivó un futuro burgués y tomó un desvío que conduciría al Allende adulto por la vía chilena al socialismo. "Los comentarios de él eran importantes porque yo no tenía una vocación de lecturas profundas y él me simplificaba con esa sencillez y esa claridad que tienen los obreros que han asimilado las cosas", reconocía quien después estudiaría Medicina en la capital, no sin antes realizar el servicio militar, "una decisión inusual para un joven de su extracción social".
La cita es del historiador Mario Amorós, un experto en la vida del mito chileno que ha publicado Salvador Allende. Biografía política, semblanza humana (Capitán Swing), donde también esboza a otros personajes relevantes, pero menos conocidos, en la vida del líder socialista. Como su nana, la mamá Rosa, quien fue testigo del disgusto que se llevaron sus padres cuando les espetó que quería ir a la mili. "Yo entonces dije que para ser bien hombrecito tenía que hacer el servicio", declaró su niñera a El Siglo. "Y entonces el papá consiguió que lo hiciera de voluntario".
"Su destino empieza a forjarse cuando conoce a Juan Demarchi, quien tuvo una vida azarosa, pues huyó de Italia para no tener que enrolarse en el ejército de su país", recuerda Amorós, quien traza su peregrinaje por Francia, el "volcán libertario" de la Barcelona de finales del siglo XIX, Portugal, Marruecos, Brasil y Argentina, antes de recalar en Chile, donde propagó su ideario hasta que lo deportaron a Buenos Aires en 1926 por agitador, una decisión que motivó una ola de solidaridad en los círculos obreros.
Translation - English The Unruly Carpenter that Led the Revolutionary Belief System of Salvador Allende
When he was a teenager, the President of Chile, attended Juan Demarchi’s workshop, a revolutionist, who explained the libertarian doctrine, the labor movement, and social justice.
Salvador Allende, born into a wealthy family in 1908, was destined to take on a military and professional role in the Extremist Party. Nevertheless, during his adolescence he met an unruly carpenter, who was mesmerized by the theories of Erico Malalesta and he taught him about the social hierarchical system. While his parents mingled with the elites from Valparaíso, he attended the workshop by Juan Demarchi, a runaway from the Italian army, who also talked about the laborers’ fight and the libertarian doctrine.
“He was 60 or around 63 when he agreed to talked to me. He taught me how to play chess, talked to me about things in life, and lent me books, “recorded in an interview with French philosopher and writer, Régis Debray, during the 70’s. After leaving the university, he followed his advice diligently and shared ideas and opinions with him. “When I finished my classes, I went to talk to this anarchist, who had so much influence on me as a kid, “added Allende, who listed the recommended lectures including the work by Bakunin.
You could say that friendship drastically altered his path in life. In a way, young Salvador avoided an elitist future and the grown Allende was steered towards the Chilean socialist route. “What he said wasn’t important because I could never be one to give thought-provoking lectures. For me, he made it seem simple and clear like how workers feel when they have assimilated to their new life”. He recognized after studying medicine who he was but not before enlisting in the military. It was an unusual decision to make for a young boy of his social status.
This quote comes from the historian, Mario Amorós, a life expert in Chilean myths and publisher of the book, Salvador Allende. It’s a political biography, a human resemblance (Captain Swing), where it also outlines relevant but less well-known characters in the life of the socialist leader. Like his grandma and his mom Rosa, his parents experienced true horror when their son blurted out that he wanted to join the military. “If I want to be a better man, I have to serve my country”. He gave up his youth to El Siglo. His father agreed he would serve as a volunteer.
“His destiny started to come together when he met Juan Demarchi, who had a precarious lifestyle ever since he fled from Italy to avoid having to enlist in the army” recalls Amorós. He remembers tracing his pilgrimage from France, to the “erupting volcano” in Barcelona in the late 14th century, then Portugal, Marruecos, Brazil, and Argentina before arriving in Chile. This is where he spread his ideology until they deported him to Buenos Aires in 1926 for inciting a wave of solidarity amongst the labor workers.
Spanish to English: Scientific Article General field: Science Detailed field: Science (general)
Source text - Spanish Un pequeño fragmento de roca atrapado en el interior de un diamante tiene la clave sobre algunos secretos geológicos de nuestro planeta.
Este pequeño trozo de roca ha abierto una ventana al conocimiento de la composición y estructura de los materiales presentes en el manto interior de la Tierra. El diamante procedía de una mina de Botsuana y se formó a más de 660 kilómetros de profundidad, en el límite superior del manto interior, y en su interior se encuentra un mineral de silicato recién identificado llamado davemaoita, del que hasta ahora no se tenía conocimiento en el medio natural. Hasta ahora este mineral, la davemaoita, solo se había obtenido en análisis de laboratorio. Es la primera vez que los científicos consiguen demostrar definitivamente su existencia, pues hasta la fecha únicamente había sido documentado en experimentos de laboratorio. El equipo bautizó el mineral en honor al conocido geofísico sinoamericano Ho-Kwang Mao, cuyas investigaciones han sido cruciales para la investigación de las capas inferiores de la Tierra. El mineralogista Olivier Tschauner, de la Universidad de Nevada en Las Vegas, y sus colegas identificaron la composición química y la estructura del nuevo mineral, que calificaron como un tipo de silicato de calcio CaSiO3-perovskita a través de técnicas analíticas, como la difracción cristalográfica de rayos X, la fluorescencia y la espectroscopia. Hasta la fecha la comunidad científica había estimado que entre el 5 y el 7% del manto interior terrestre debía estar compuesto por este mineral, muy difícil de observar en esa capa terrestre (que se extiende hasta 2.700 kilómetros por debajo de la superficie del planeta). Y es que, a esas profundidades y presiones, los minerales empiezan a reorganizar sus estructuras cristalinas modificándolas completamente.
“El material del manto se encuentra en movimiento debido a los movimientos de convección. Por lo tanto, a cada nivel de profundidad los minerales del manto están en equilibrio termodinámico a una temperatura y presión dadas y en función de la composición de toda la roca -explica Tshauner a National Geographic España a través de un correo electrónico-. A veces determinadas erupciones volcánicas transportan fragmentos de roca de hasta 100 km de profundidad (algunos creen que 200 km) pero no del manto inferior (660 a 2.700 km de profundidad)”. Por otro lado, explica, los diamantes tienen la particularidad de encapsular minerales de roca circundante durante su formación, los cuales quedan protegidos desde el punto de vista físico y químico. De ahí que los minerales atrapados en el diamante puedan permanecer a una presión remanente que sea lo suficientemente alta como para mantenerlos en su estructura original. Los diamantes, pues, actúan como cápsulas del tiempo, encerrando las formas minerales originales en su viaje a la superficie. El descubrimiento de la davemaoita no solo confirma su existencia, sino que revela la ubicación de algunas fuentes de calor de las profundidades de la Tierra. Y es que, aunque se trata de un mineral de silicato de calcio, este nuevo mineral también contiene una serie de elementos distintos que ‘se cuelan’ en su estructura cristalina, lo que incluye elementos radiactivos como el uranio (U), el torio (Th) y el potasio (K), así como elementos de tierras raras y elementos radiactivos, que, juntos producen aproximadamente un tercio de todo el calor que circula en el manto inferior terrestre.
La identificación de la composición química de este nuevo mineral permite ahora a los científicos confirmar dónde residen estos elementos.
Translation - English A small fragment of a trapped rock in the interior of a diamond contains the key to some geological secrets of our planet. This small piece of rock has opened a window to the knowledge of the composition and structure of the present materials in the interior mantle of the Earth. The diamond came from a mine in Botswana and formed more than 600 kilometers in depth, in the upper portion of the interior mantle and in its interior can be found in a silicon mineral recently identified called davemaoite, which until now there was no knowledge in the natural environment. Until now this mineral, davemaoite, only had been obtained in laboratory analysis. It’s the first time that scientists are able to demonstrate definitively its existence, since until that date, there only had been laboratory experiments documented. The team baptized the mineral in honor of the known Sino American geophysicist, Ho-Kwang Mao, whose investigations have been crucial for the investigation of the inner layers of the Earth. The mineralogist Olivier Tschauner, of the University of Nevada in Las Vegas, and his colleagues identified the chemical composition and the structure of the new mineral that calcified like a type of calcium silicate CaSiO3-perovskite through analytical techniques, like the crystallographic diffraction of X-rays, the fluorescence and the spectroscopy. Until that day the scientific community had estimated that between 5 and 7% of the interior earth mantle should be composed by this mineral, very difficult to observe in this earth layer (that extends up to 2,700 kilometers underneath the surface of the planet). And furthermore, at these depths and pressures, the minerals start to reorganize their crystalline structures modifying them completely. “The mantle material is found in movement due to the convection movements. Thus, at each level of depth the minerals are in thermodynamic equilibrium at a given temperature and are dependent on the composition of the entire rock (some believe that it’s 200 km) but not from the interior mantle (660 to 2,700 km of depth)”. On the other hand, he explains, the diamonds have the particularity of encapsulating minerals of surrounding rocks during their formation, which remain protected from the physical and chemical point of view. Hence, the trapped minerals in the diamond can remain at a remainder pressure that is sufficiently high enough to maintain them in their original structure. The diamonds, then, act as time capsules, enclosing the original mineral forms on their trip to the surface. The discovery of the davemaoite not only confirms its existence, but also reveals the location of some sources of heat in the depths of Earth. The thing is although this new mineral is calcium calcium silicate, this new mineral also contains a series of distinct elements that slip in its crystalline structure, what includes radioactive elements like uranium (U), thorium (Th), and potassium (K), as well as rare earth elements and radioactive elements, that, together produce approximately a third of all the heat that circulates in the interior earth mantle. The identification of the chemical composition of this new mineral allows the scientists now to confirm where these elements reside.
Spanish to English: World Hunger Article General field: Other Detailed field: Government / Politics
Source text - Spanish ROMA - Cindy H. McCain se incorpora hoy al Programa Mundial de Alimentos de las Naciones Unidas (WFP, por sus siglas en inglés) como nueva Directora Ejecutiva, advirtiendo que el mundo se enfrenta a una crisis alimentaria sin precedentes que requiere que la agencia con sede en Roma recaude urgentemente más recursos, innove más y desarrolle nuevas y ambiciosas alianzas.
McCain, que ha ejercido desde 2021 como Embajadora de Estados Unidos ante las tres agencias de la ONU para la alimentación y la agricultura en Roma, toma el timón de una organización que el año pasado entregó ayuda alimentaria a la cifra récord de 158 millones de personas en todo el mundo. La inseguridad alimentaria se mantiene en niveles sin precedentes en 2023, ya que los conflictos, las crisis económicas, los fenómenos climáticos extremos y el aumento de los precios de los fertilizantes siguen perturbando la producción de alimentos a nivel mundial.
"El hambre se está disparando, los recursos se están agotando peligrosamente y se avecinan recortes en las raciones si no tenemos el dinero para hacer llegar los alimentos a quienes más los necesitan. Sin fondos, sencillamente no podemos alimentar a tanta gente", afirmó McCain. "Mis prioridades son claras: aumentar nuestros recursos, mejorar nuestra eficacia y ampliar las alianzas y la innovación para llevar soluciones modernas a las personas que más lo necesitan ".
La nueva Directora Ejecutiva subrayó que ninguna organización puede resolver el hambre en el mundo por sí sola y que la cooperación mundial es fundamental para salvar los millones de vidas en peligro. Afirmó que una de sus primeras acciones al frente del WFP será crear un grupo de trabajo sobre innovación que reúna a los mejores cerebros de los sectores público y privado para recomendar medidas cuantificables para hacer frente al hambre.
El WFP estima que más de 345 millones de personas en todo el mundo se enfrentan a niveles de crisis de inseguridad alimentaria en 2023, un aumento de casi 200 millones desde principios de 2020. De ellos, 43 millones están a un paso de la hambruna.
"Necesitamos una colaboración aún más estrecha con nuestros socios para revertir esta crisis sin precedentes", dijo McCain. "Hoy pedimos a nuevos amigos -especialmente del sector privado- que den un paso al frente y se unan a nosotros. El mundo no debe dar la espalda a las personas con hambre".
En su calidad de embajadora de Estados Unidos ante las agencias de la ONU para la alimentación y la agricultura en Roma, McCain ha visto de cerca las operaciones del WFP, viajando a Laos, Camboya, Sri Lanka, Guatemala, Honduras, Kenia, Zambia, Tayikistán y Madagascar en los últimos 12 meses. La nueva responsable del WFP toma el relevo del exgobernador de Carolina del Sur David Beasley, que fue director ejecutivo desde 2017 hasta ahora.
"Me siento profundamente honrada de dirigir el WFP y encantada de formar parte del equipo. El WFP ha estado en mi vida durante décadas y fue una inspiración en mi propia carrera humanitaria", ha declarado.
McCain fue presidenta del Consejo de Administración del McCain Institute para el Liderazgo Internacional de la Universidad Estatal de Arizona, donde supervisó el enfoque de la organización en el avance del liderazgo mundial impulsado por el carácter y basado en la seguridad, las oportunidades económicas, la libertad y la dignidad humana, además de presidir el Consejo Asesor sobre Trata de Personas del Instituto.
Translation - English ROME - Cindy H. McCain joins the United Nations World Food Programme as the new Executive Director today, warning that the world is facing an unparalleled food crisis that requires the Rome-based agency to urgently raise more resources, innovate further, and develop ambitious new partnerships.
McCain, who has served since 2021 as the United States Ambassador to the three UN food and agriculture agencies in Rome, takes the helm of an organization which last year delivered food assistance to a record 158 million people around the world. Food insecurity remains at unprecedented levels in 2023 as conflict, economic shocks, climate extremes and rising fertilizer prices continue to disrupt food production globally.
“Hunger is soaring, resources are running dangerously low and ration cuts are coming if we don’t have the money to get food to those who need it most. Without the funds, we simply cannot feed as many people,” McCain said. “My priorities are clear: increase our resources, improve our effectiveness, and scale up partnerships and innovation to bring modern solutions to those most in need.”
The new Executive Director stressed that no organization can solve world hunger alone and that global cooperation is critical to save the millions of lives at risk. She said one of her first actions as WFP chief will be to set up a taskforce on innovation, bringing together the best minds in both the public and private sectors to recommend measurable steps to address hunger.
WFP estimates that more than 345 million people worldwide are facing crisis levels of food insecurity in 2023, an increase of almost 200 million since early 2020. Of these, 43 million are just one step away from famine.
“We need even closer collaboration with our partners to reverse this unparalleled crisis,” McCain said. “Today we are asking new friends – especially from the private sector – to step up and join us. The world must not turn its back on the hungry.”
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Bio
I am a recent graduate from the University of Illinois, Urbana-Champaign University in the Translation Studies and Interpretation Program. I also attended UC Santa Barbara where I received a BA in Economics and Spanish and a minor in Portuguese. Over the past two years, I have taken coursework where I have done numerous translations in Spanish and Portuguese that have included professional and literary pieces. I have also taken a subtitling course as well as a course on localization. I subtitled one film in Spanish. I am familiar with a wide array of CAT tools including subtitling software from the different translation projects I worked on over my two years in graduate school. I am interested in any type of professional or literary translation as I have experience in both those fields. I also have experience in subtitling and would like to do work in the localization industry.
You can reach me at my email rice28@illinois.edu or my cell 707-580-2123.